No sertão que a gente
mora
Chega a friesa trazendo
O cheiro do dia novo
E a alegria do povo
Do novo dia nascendo
Raios claros aparecendo
Do sol rasgando a aurora
E madrugada indo embora
Quando vem raiando o dia
Tudo
isto é alegria
No sertão que agente mora
Autor: Poeta Agostinho
Quem eu amei não me quis
Foi
embora e me deixou
Apaixonado
eu estou
Dos
olhos até a raiz
Choro
igual um infeliz
Depois
qui fiquei sem ela
Risco
fosforo acendo vela
Canto e
faço cerenata
E nem a
policia me empata
Eu
chorá na porta dela
Depois
que ela foi embora
Me
desesperei na cachaça
Quanto
mais o tempo passa
Mai a
minha alma chora
Estou
despresado agora
Sem
poder encostar nela
A
saudade é quem me zela
E a
paixão é quem me mata
E nem a
policia me empata
Eu
chora na porta dela.
Por isso eu vivo sofrendo
Dos pés
até aguele
Bebendo
pensando nela
Levando
ponta e roendo
Ela
sorrindo e vivendo
A vida mais linda e mais bela
E eu
numa sentinela
Da mais
triste morte ingrata
E nem a
policia me empata
Eu
chorar na porta dela.
Tor como um pássaro ferido
Na
chapada da floresta
Se estou em casa não presta
Na rua
não tenho sentido
Bebo
choro dor gemido
Que
derruba a espiela
Caço
briga pensoi nela
Pra ver
se alguém me mata
E nem a
polícia me empata
Eu
chorar na porta dela
Já
contei a meu irmão
A meu
pai também não nego
Que até no sangue eu carrego
Veneno
desta paixão
Choro
no pé no mourão
Caio no
pé de uma cancela
Meu
coração para e gela
E minha
pressão desacata
E nem a
policia me empata
Eu
chorar na porta dela.
Meu avô
mais minha avó
Brincando
de caducar
Na quilo foro pensar
O coisa
de fazer do
A
veinha botor pó
As 8 e
mei do dia
Para
ver se o vei sentia
O
cheiro e sinteressava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
A minha lua de mel
Fui
passar em Salvador
Ai levei
meu amor
Para
dormir num hotel
Mais
ela não fiel
Me
fez grande covardia
Na cama
ela não queria
Na rede
a corda forava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
Namorei
com Conceição
Para
ver se me aprumo
Era eu vendendo fumo
E ela
vendendo pão
Era a
maior confusão
Na
feira que a gente ia
Nem o
pão dela subia
Nem meu
fumo levantava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
Comprei
um vidro de cheiro
A Maria
de Zé Bento
Ela
veio cum pagamento
Com
dois cheques verdadeiro
Um
cheque tinha dinheiro
No
outro ninguém confia
O sem
fundo ela num dava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
Meu pai
era constureiro
Mamãe
era costureira
Os dois
ganhava dinheiro
Para
sustentar a feira
Agulha
era quebradeira
Mamãe o
fundo não via
Pegava
a linha e lambia
Papai
no fundo enfiava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
Eu
ventei de casar
Mais
Toinha minha esposa
Ela viu
uma raposa
Começor
a se aperriar
Eu em
ventei de trepar
Numa
cerca que avia
Eu
ainda me subia
Mais a
muer não trepava
Quando
eu ia ela voltava
Quando
eu voltava ela ia.
O Veio e o Dotor
Seu dotô eu vim aqui
Ota vez me receitar
Me escuti queira me
ôvir
Tudo que eu vô li
contar
Num posso drumir
tranquilo
A vida é pensar
naquilo
Num posso viver empaz
Tanta saudade na vida
Num sei se levanto
mais.
Casei com Maria Inez
Raça de muié briguenta
Todo dia todo mês
Ela quer qui eu poxe
80
Ma agarra a semana
inteira
Dança roque e
gafieira
Todo baião de Gonzaga
Ajeita aqui meu
estrovo
Mode ver se um caba
novo
Num vai tomar minha
vaga
As coisa que faz
bravura
Eu como toda semana
Mudubim com rapadura
Com mel de italiana
Comi ovo de codorna
Prá puder drumir mais
ela
Mais quanto mais eu
comia
Aí era que caía
O diabo da espiela.
Doce de cocô e mamão
Comi que passei da
taba
Vitamina de limão
Com raiz de catoaba
Mocotó de vaca nova
O único remédio que
aprova
Toda moleza do pobe
Quanto mais remédio
eu tomo
Passo fome e nada
como
E a espiela num sobe.
Seu dotô der um
amparo
Me levante essa
espiela
Me receite e cobre caro
Passe remédio pa ela
De um jeito umendo um
mês
Prá vez se Maria Inez
Vai aumentar mais a
fé
Num deixe eu ficar na
rua
Só vendo o tamanho da
lua
Sem sentir gosto de
mé.
O dotô disse rapaz
Deixe de ser furioso
Pruque num levanta
mais
Espiela de idoso
Vacê de barba
branquinha
Já caiu saiu da linha
Num é mais aquele
povo
Já perdeu toda a
esperança
Hoje só lhe resta
lembrança
Do tempo que era
novo.
Maria Inez quando via
O lamento do marido
E aquilo que ela
queria
A tempo tinha caído
Acabou-se todo bem
Deixô o veio sem
ninguém
Só com a saudade dela
Sumiu num deixo nem
resta
Vei com tudo já num
presta
Quando mais sem
espiela.
Aboio de Vaqueiro
Eu tomei tanta
cachaça
Que tô com meu peito
ardendo
Cavalo só presta bom
Ir pro morrão se
mordendo
Homem só presta
farrista
E mulher só presta
ruendo
Cachorro que paga
bode
Mulher que erra uma
vez
Homem de que bebe
cachaça
Só vive na
embriagueis
Não há dotôr neste
mundo
Que dê jeito a esse
três
O aboio da meia noite
E um aboio excelente
Acorda quem tá
dormindo
Consolar quem tá
doente
A guia do meu cavalo
E gado correr na
frente
Bezerro de vaca preta
Onça pintada não como
Quem casa com mulher
feia
Não tem medo de outro
homem
Quem casa com a
bonita Leva chife e passa fome
Se o mundo fosse rosa
E ninguém nunca morresse
E toda mulher bonita
Nunca me aborrece
Eu só vivia dizendo
Que o tempo bom era
esse
A cachaça tá no copo
A garrafa no balcão,
O cavalo no giqui
E o boi tá no morrão
Dinheiro e muier
bonita
Foi a minha perdição
Nunca mais eu esqueci
Das meninas do feijão
Se a taça num corpete
Com vinte e quatro
botão
Só deixa um canto no
meio
Da gente passar a mão
Menina me da um beijo
Só não quero do
pescoço
Quero da ponta da
língua
Do canto que não tem
osso
Para quando eu ficar
velho
Me lembrar que já fui
moço
A moça pra ser bonita
Pelo o andar se
conhece
Pisa no chão devagar
Que chega a terra
estremecer
Velho de oitenta anos
Abre a boca e baba
desce.
Coisa do meu sertão
Roçadeira foice e
inchada
Martelo pedra e
machado
Cavador, cabeça e
água
Chapéu de palha rasgado
São coisas
necessárias
Do caboclo do roçado
Peitoral aboio e gado
Perneira, chapéu,
gibão
Careta , chocalho
espora
Chicote grosso na mão
São só documentos
certo
Do vaqueiro do
sertão.
Meu sertão que eu
limpo mato,
Bebo água de cabaça
Caçador entra na mata
Pega peba mata e assa
E o xexeu tira enxui
Sem precisar de
fumaça
Meu sertão que as
nega dança
Faz festa da
farinhada
Comendo angu com fubá
Xerém, pipoca torrada
Sai do casamento
ligeiro
Da primeira namorada.
Quando termina o
inverno
No sertão fica
fartura
Cabra como milho
assado
Farinha com rapadura
Mata um bode e vende
o couro
Come a carne e a
fussura
Eu sei que na rua tem
Cinema, televisão
Banho de paria e de
piscina
De biquíni e sutiã
Mas não chega nem um
quarto
Das coisas do meu sertão.
Namoro com mia prima
Eu nasci no sertão
Morando em minha
palhoça
Só de casa pra roça
Prantando milho e
feijão
Rezando minha oração
Pra não cai no pecado
Bem cedo vou pro
roçado
Só vorto de
tardizinha
Nem sabia que eu
tinha
Família em outro
estado
Era mia prima Ogusta
Fia de seu Zé Badalo
Que hoje chegou de Sa
Paulo
Toda bunita e robusta
Os caba chega se
assusta
Quando vê esse coipão
Ela pegou minha mão
Começou a mim abraçar
Primo eu vou te
carregar
Deste deserto sertão
Já foi dizendo o que
cara
Você ta sendo
estruído
Neste deserto perdido
Igual ao pau de arara
Só sabe queimar
coivara
Amolar foice e enxada
Não se aproveita de
nada
Seu cantor é gia e
sapa
Aí eu caí no papo
Da minha prima safada
Foi quebrando meu
rusaro
Meus livrinhos de
rezar
Primo vou te carregar
Pra você ganhar
salaro
Tá parecendo um otaro
Nessa sua romaria
Mim encheu de
fantasia
Roupa caiçado e
preifume
E começou cortar
ciúme
A partir daquele dia
Um namoro escuimbado
Que ela dizia cum eu
Um acocho um agarrado
Um vestido tão colado
Uma blusa miudinha
Uma saia bem curtinha
Que quando ela mim
agarrava
O taquim que
levantava
Mostrava tudo que
tinha
Vi que aquilo era um
pecado
Muié anda sem vestido
E eu tá sendi iludido
Cum muié de outro
estado
Rezei o credo em
cruzado
Pra Deus não me
castigar
Fui pra igreja rezar
Pra ser fiel e
direito
E cum muié daquele
jeito
O diabo é quem quer
casar
Pedro Bandeira cego de amor
Posso está a rezar
aos pés de Deus
Comtemplando Maria
Concebida
Vendo o céu vendo a
terra
Vendo os meus
Sem te ver nada vejo
Em minha vida
Envolvi minha vida
Em sua vida
Sua vida envolveu os
dias meus
Hoje vida só é desenvolvida
Quando vejo a visão
dos olhos teus
Se vor vendo meu bem
Como vor vendo
Vor passando o
passado e revivendo
Como vivo vivendo sem
viver
És a única ilusão que
eu carrego
Sor capaz de pedir
pra ficar cego
Se olhar para o mundo
e não ti ver
Seu dotô que governa
esse país
Dê mais uma olhadinha
pu sertão
Um pedaço de terra
tão feliz
Mais faltando umas
coisas pa nação
O sertão ta virando
capital
Só o caba que tem
segundo grau
É que pode ser bem
civilizado
Trabalhar ter emprego
e ser descente
Meu sertão está muito
diferente
Do antigo sertão que
foi criado
Acabosse o engenho da
rapadura
Desprezaram a casa de
farinha
Ainda tem um
pouquinho de agricultura
Mais também tá
ficando sem pouquinha
Todo mundo correndo a
pa cidade
Só querendo viver da
vaidade
E deixando o sertão abandonado
Por aqui está ficando
pouca gente
Meu sertão está muito
diferente
Do antigo sertão que
fui criado
Ninguém quer plantar um pé de nada
Nem andar com enxada
na mão
Nem o povo faz mais
farinhada
Nem faz reza e nem
faz renovação
Todo mundo querendo
emprego e luxo
Mais não lembra que
pra encher o buxo
Tem que vir o produto
do roçado
Cultivar nosso chão e
plantar semente
Meu sertão está muito
diferente
Do antigo sertão que
fui criado
Nosso carro-de-boi
mandaram embora
Acabou nossa roça de
algodão
Pois o povo daqui só
fala agora
Emprego, polícia e
mensalão
E o nordeste ficando
sem progresso
Todo povo querendo
ter sucesso
Um tocando um
cantando e outro formado
E osábido mudando de
patente
Meu sertão está muito
diferente
Do antigo sertão que
foi criado
Acabousse o martelo e
a enxada
E a cerca de vara não
tem mais
Ninguém ver uma cava
encaretada
Nem vaqueiro gritando
me matsó gais
Só ver gente falando
em ir embora
E o nordeste ficando
sem escora
E o terreno ficando
desprezado
Nossa mata morrendo
no sol quente
Meu sertão está muito
diferente
Nenhum comentário:
Postar um comentário